31/07/2023

TODO O TERRENO | Visita Mén Non | “Amolê Pedaço” | PIEAS |

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“O ‘Amolê Pedaço’ é um projeto de integração social, que ajuda imigrantes, é feito por imigrantes para imigrantes”, começa por explicar Ilidiacolina Vera Cruz, presidente da Associação Mén Non – Associação das Mulheres de São Tomé e Príncipe em Portugal, a entidade responsável por este PIEAS (Projetos Inovadores e/ou Experimentais na Área Social). “Temos imigrantes de vários países, não só de São Tomé. Ajudamos no que toca a vestuário, alimentação, com cabazes de bens essenciais, no tratamento documental (visto de residência, cartão do cidadão, segurança social, finanças…), enfim, toda a burocracia que envolve um cidadão, todos os documentos que ele deve ter na carteira”, acrescenta.

A Mén Non tem um gabinete de apoio que está aberto de segunda a sexta, no Centro de Recursos DLBC Lisboa, no Bairro Padre Cruz, e a equipa da Rede DLBC Lisboa foi visitá-lo, juntamente com o presidente Gonçalo Folgado. “Temos diversas atividades, além da distribuição de cabazes, temos o Bazar Solidário, que fazemos uma vez por semana, workshops de várias áreas (integração, saúde…), a distribuição de vestuário, brinquedos, livros…”, explica a líder da organização. E, uma vez que “a saúde mental é cada vez mais uma preocupação, realizamos também ateliers de arte, numa vertente mais lúdica, para descontração, porque as pessoas precisam de espairecer”.

O projeto teve início em abril de 2021, e “com a pandemia foi importante suprir várias necessidades primárias”, recorda Ilidiacolina. “Mas não foi só nessa altura, a pandemia deixou sequelas e até hoje temos continuado a prestar apoio. Em termos de beneficiários, temos cerca 850/900. Só em 2023, já prestámos ajuda a umas 500 pessoas, apenas no gabinete de apoio, e o projeto ainda vai durar até dezembro!”

O “Amolê Pedaço” está direcionado para a zona Norte de Lisboa, principalmente, Ameixoeira, Galinheiras e Charneca do Lumiar… mas, além destes territórios, tem “muitos utentes de outras áreas. Nós prestamos apoio, independentemente da zona de onde vêm”, faz questão de salientar.

A Presidente da Mén Non, Ilidiacolina Vera Cruz (à dta), na companhia da gestora do projeto “Amolê Pedaço”, Domingas Aguiar (2ª à esq.) e de algumas utentes do Gabinete de Apoio

Dificuldades e balanço

Apesar de considerar que chegar ao público-alvo foi relativamente fácil, uma vez que a Mén Non já fazia este trabalho antes de iniciar o “Amolê Pedaço”, a presidente confessa que se deparou com uma dificuldade que condiciona “a eficiência do trabalho e põe em causa o andamento do próprio projeto”: a tesouraria. “A maior dificuldade que temos é financeira. Apesar do financiamento que recebemos, temos de fazer as atividades, reunir provas e depois fazer o pedido de reembolso das despesas. Mas os reembolsos demoram muito tempo a ser pagos e os recursos humanos afetos ao projeto acabam por ficar com os ordenados em atraso!”, lamenta. “É muito complicado suprirmos essa carência”.

Pese embora este “percalço de peso”, nestes dois anos e meio de projeto, Ilidiacolina, faz “um balanço muito positivo, no que toca à execução física.” A nível de atividades nada parou… “Fazemos o nosso trabalho, temos pessoas que nos procuram no gabinete, que querem participar nos nossos workshops e ateliers. Estou bastante satisfeita, apesar de cansada por causa da parte financeira, que me deixa preocupada e pode pôr tudo em causa”, finaliza.


Os imigrantes em Portugal

O apoio dado pela Mén Non aos imigrantes ganha ainda particular destaque e importância se tivermos em conta que, nos últimos anos, o Índice de Envelhecimento registado em Portugal tem vindo a agravar-se de forma constante. Segundo projeções do INE, estima-se que, em 2060, em Portugal, por cada 307 idosos a residir no nosso país, teremos apenas 100 jovens. De notar que, desde o ano 2000, o número de idosos ultrapassou o de jovens. A entrada de imigrantes permite-nos reforçar os grupos etários mais novos e em idade ativa, atenuando o envelhecimento demográfico.

“A população portuguesa está cada vez mais envelhecida e com uma esperança de vida mais elevada, portanto, torna-se essencial integrar força de trabalho imigrante”, explica Gonçalo Folgado, salientando “a importância de sabermos direcionar estas pessoas para o mercado e proporcionar a sua integração social e comunitária”.

O presidente da Rede DLBC Lisboa considera que os imigrantes “não podem ficar reduzidos a trabalhos precários, com remunerações baixas e altos níveis de rotatividade”, como acontece recorrentemente. “Devem ter acesso a empregos em que possam ter progressão de carreira, contratos de trabalho dignos, acesso a formação e oportunidades! É fundamental pensar neste cenário, até porque Portugal sempre foi reconhecido por saber receber.”

Publicado por: Ana Alexandra Henriques

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