TODO O TERRENO | Projetos Inovadores e/ou Experimentais na Área Social | O Meu Palácio | Yellow Cusca Associação Cultural |

Corredores labirínticos, quadros de paredes inteiras, salas e mais salas, recantos, arte em quase todas as suas formas, mobílias luxuosas, tecidos requintados, esculturas sumptuosas, tetos esplendorosos…. Seja qual for a descrição e os adjetivos escolhidos, claramente, ficam aquém de tudo o que conseguimos ver no Palácio Nacional da Ajuda, em Lisboa. Já para não falar do que não temos oportunidade de conhecer, tal a sua grandiosidade e os muitos espaços interditos ao público.


“O Meu Palácio”, projeto Inovador e/ou Experimental na Área Social (PIEAS) promovido pela Yellow Cusca Associação Cultural, pretende abrir as portas deste monumento à população dos bairros da freguesia lisboeta, contribuindo para o conhecimento e colaboração mútuos, a partir da realização de iniciativas lúdicas de aprendizagem, de estágio ou oficinas de emprego, criando uma bolsa de mediadores/embaixadores do Palácio, em torno da arte, da educação cultural e patrimonial.


Assim, no âmbito de “O Meu Palácio”, a equipa da Rede DLBC Lisboa visitou a Ajuda, para assistir a duas oficinas de empregabilidade que se realizam neste espaço nobre da capital: uma de restauro de Têxteis, Costura e Guarda-Roupa e outra de Carpintaria e Reparações. O projeto contempla ainda mais atividades, uma oficina de Recuperação de Livros Antigos, Encontros de Xadrez, eventos de Dança, Noites de Fado com concursos amadores, quermesses, sessões comunitárias, ateliers artístico-pedagógicos com alunos
das escolas vizinhas do Palácio, entre outras…

Por entre linhas e agulhas
Na companhia da coordenadora do Serviço Educativo do Palácio da Ajuda, Teresa Marecos, que nos guiou pelos corredores do espaço e, simpaticamente, foi respondendo a todas as nossas questões, explicando o que íamos vendo e revelando detalhes sobre as salas, a decoração, contando um pouco da nossa História e das “estórias” de reis, rainhas, príncipes e princesas…chegámos à oficina de Têxteis, Costura e Guarda-Roupa, onde Filomena Mira nos esperava. Desde 1995 que é responsável por tudo o que há para restaurar na área têxtil do Palácio da Ajuda. “Sejam toalhas, roupa… tudo o que tenha tecido passa pelas minhas mãos”, começa por explicar, com um brilho nos olhos, ladeada por várias fardas vermelhas que estão penduradas na sala de trabalho. Está prestes a reformar-se e, depois de mais de 25 anos nestas lides, vê-se que continua a sentir-se feliz e realizada pelo trabalho que faz todos os dias. A expressãoserena e a postura tranquila transparecem na interação com Patrícia Rodrigues e Inês
Martins,
que trabalhavam neste dia na Oficina, por entre agulhas, linhas, tesouras e caixas de costura. “Estão a fazer uma nova capa para o piano de cauda, que está aqui ao lado, na Sala D. Luís”, precisou Filomena. “A anterior já está um pouco velhinha”.

Quase todos os trabalhos são minuciosos, repletos de detalhes e os materiais utilizados têm de ser de qualidade, ou não fossem, literalmente, dignos da realeza! Afinal, é importante que mesmo o que foi restaurado a posteriori continue a “encaixar” perfeitamente no cenário de séculos anteriores. “Quem frequenta as nossas oficinas tem a oportunidade de deixar um pouco de si no Palácio e de levar um pouco do Palácio para casa”, revela Filomena, explicando que, além do restauro efetuado em peças “residentes”, as suas “aprendizes” têm a oportunidade de fazer um trabalho à escolha para levarem consigo. “Um dia mais tarde, vou poder visitar o Palácio da Ajuda e dizer aos meus filhos e netos que aquela capa do piano de cauda foi feita por mim”, diz, orgulhosa, Patrícia.


Após visitarmos a sala D. Luís, onde se encontrava o piano, um local acolhedor, mas imponente, no qual, ultimamente, se têm realizado algumas atividades e concertos, a equipa da Rede DLBC Lisboa teve a oportunidade de conhecer a Sala dos Jantares Grandes, cenário da maioria dos banquetes da Casa Real e de algumas cerimónias marcantes do século XIX como a Aclamação de D. Miguel (1828) e o casamento e D. Carlos (1886). “Atualmente, é usada para jantares de Estado, oferecidos pelo Presidente da República, o único que tem a honra de poder convidar para aqui”, explica Teresa Marecos, enquanto nos deslumbramos com o cenário majestoso, decorado com plantas e objetos em prata, que se refletem nos grandes espelhos que ornamentam as paredes. Fala-nos dos ilustres que já por ali passaram, reis e rainhas. chefes de Estado, dos protocolos rígidos que ditam a distribuição de lugares, do posicionamento das mesas…


Regressamos ao labirinto de corredores, com a certeza de que sem alguém a guiar-nos teríamos ficado perdidos no Palácio. Confirmando a nossa ideia, a nossa anfitriã revela: “O tempo médio de orientação aqui dentro é de três meses!”

Conhecendo (algumas) salas do Palácio
Embora no dia em que nos deslocámos à Ajuda, o Palácio estivesse fechado ao público, Teresa Marecos fez questão de nos mostrar mais alguns espaços nobres. À chegada à Sala de Mármore, que “servia de vestíbulo interior e separava os aposentos de D. Luís I e de D. Maria Pia”, deparamo-nos com um verdadeiro “Jardim de Inverno” que mostrava bem que a Família Real privilegiava o contacto com a natureza. Um espaço que foi casa de plantas exóticas e animais (há algumas gaiolas), com uma fonte ao
centro, deixando transparecer uma enorme tranquilidade. De seguida, atravessámos o Gabinete de arvalho, “a sala de fumo do Rei, com um ambiente masculino e sóbrio”, intensificado pelo mobiliário em carvalho da América do Norte, pelas telas com navios de guerra e cenários bélicos… E eis que chegamos à fantástica Sala Azul! As cores contrastantes da decoração já nos aguçavam a curiosidade através da janela interior do Gabinete de Carvalho, de onde é possível ter um vislumbre do espaço. Decorada pela
rainha com sedas azuis, como era comum na época, e com paredes da mesma cor, esta era a sala de estar da família real, que dela desfrutava com conversas animadas à lareira, leituras em voz alta, jogos de cartas, xadrez, mas também outras distrações, como a apresentação de artistas ou de invenções recentes.


Foi também aqui que ficámos a conhecer a “estória” de Margherita de Saboia (cunhada de D. Maria Pia) e da pizza que leva o nome em sua homenagem, uma vez que, na Sala Azul, há um quadro da rainha italiana. A deliciosa iguaria tricolor, que ficou famosa em 1889, leva manjericão, mozzarella e tomate e estes três ingredientes têm as mesmas cores da bandeira italiana (verde, branco e vermelho) o que, além, do sabor certamente agradável, na altura, terá chamado a atenção da monarca. “No atelier ‘Há Festa no
Palácio! Pizza Margherita’ os alunos das escolas da freguesia da Ajuda têm a oportunidade de descobrir esta curiosidade e fazerem a sua própria pizza. Um momento sempre muito apreciado pelos mais novos”,
conta-nos Teresa Marecos.

“A qualidade dos materiais é fundamental!”
Nova incursão pelos corredores e chegámos então ao espaço da oficina de Carpintaria e Reparações, onde o responsável, José Manuel Pereira, nos aguardava, com um dos seus “pupilos”. Rodeados de ferramentas, com mesas, cadeiras, bancos… a preencherem o cenário, o cheiro a madeira e cera assaltou-nos as narinas. “Estivemos a fazer cera, para aplicar num banco que temos ali para restauro”, explicou-nos José Manuel. Fazer cera? Mas por que não comprar o produto já finalizado? “A qualidade dos materiais é fundamental, como tal, prefiro que sejam adquiridos os ‘ingredientes’, aqueles que
pretendo, e sermos nós a confecionar”, explica. “E não adianta comprar uns parecidos, têm mesmo de ser aqueles, daquelas marcas específicas, ou o resultado final não será o mesmo!”


Já tinha alguma experiência em carpintaria, por isso, José Felgueiras sente-se mais à vontade para trabalhar nesta oficina de empregabilidade. Assim, pega num pincel, mergulha-o na cera e começa a dar nova vida a um banquinho a que o tempo tirou o brilho de outrora. “Estou a gostar muito da experiência, só é pena que sejam apenas 2h30, uma vez por semana”, referiu, enquanto prosseguia o trabalho. Acompanhámos todo o processo e podemos garantir, no final, o banco parecia outro,
preparado para “brilhar” entre os seus pares!

A 29 de junho, todos os que colaboraram nas oficinas de “O Meu Palácio” receberam
os seus diplomas de participação.

AAH

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