TODO O TERRENO | Projetos Inovadores e/ou Experimentais na Área Social | PORTA 11 | ADM ESTRELA |

Certamente que já lhe aconteceu avariar-se um eletrodoméstico, um computador, um tablet… e dizerem-lhe que não vale a pena mandar arranjá-lo e que sai mais em conta comprar um novo. Muitas vezes os aparelhos acabam no lixo ou em contentores próprios existentes em grandes superfícies. Mas e se lhe disséssemos que há forma de dar vida e utilidade a estes objetos aparentemente obsoletos, ajudando quem mais precisa?

Com uma necessidade cada vez maior de recorrermos às tecnologias digitais, agudizada pelo período de pandemia e confinamentos, com o teletrabalho, ensino à distância, reuniões por videochamada, eventos familiares, etc., tornaram-se ainda mais evidentes algumas carências entre as famílias portuguesas. Como ter aulas à distância se não houver um computador em casa? E será que todos sabem usar equipamentos informáticos?

O “Porta 11” é um projeto da ADM Estrela que pretende ajudar a colmatar estas dificuldades, capacitando jovens voluntários da freguesia de Campolide, em Lisboa, para fazer as reparações e, numa fase posterior, recondicionando os objetos e doando-os a quem mais necessita. “Não é só reparar, é necessário mudar a mentalidade das pessoas. Vivemos numa sociedade consumista, em que é mais fácil, simplesmente, comprar um aparelho novo”, começa por explicar Gustavo Funke, engenheiro informático, autodidata e técnico responsável por dar formação aos voluntários na oficina de reparações localizada, precisamente, na Loja 11, junto à sede da ADM Estrela, no Bairro da Liberdade.

Os objetos recolhidos são arranjados e doados a famílias carenciadas

Numa primeira fase, é feita uma recolha de aparelhos obsoletos ou em fim de vida (podem ser entregues na sede da associação, na Junta de Freguesia de Campolide ou na Escola 2 3 Marquesa de Alorna). “Portáteis, torres de computadores… São o que recebemos mais” refere Gustavo, acrescentando que “ainda assim, aparece um pouco de tudo, cafeteiras, máquinas de café, teclados, ratos, aparelhagens…” Por vezes, “as peças são mais caras do que comprar um novo, por isso os aparelhos até acabam por ter um fim diferente do inicial, por exemplo, um dos tablets que recebemos vai servir para o sistema de senhas da oficina”, explica.

Literacia Digital

Além da capacitação de jovens da freguesia, social e profissionalmente, da promoção da sustentabilidade e da diminuição da info-exclusão, tornou-se cada vez mais necessário apoiar a população na utilização de meios informáticos. O “Porta 11” que está estimado decorrer ao longo de 24 meses, tinha previsto prestar apoio aos professores no que diz respeito ao ensino online, nomeadamente, no agrupamento de Escolas Manuel da Maia, mas “no ano passado, com a pandemia o contacto com as escolas foi difícil”, começa por explicar Rita Saraiva. Contudo, a Coordenadora da Delegação de Lisboa da ADM Estrela ressalva que “em 2021 os professores tiveram formação a este nível dada pelo Ministério da Educação, tendo sido colmatada a necessidade inicial existente”. Assim, não perdendo o foco na capacitação dos agentes educativos, a ADM Estrela estuda agora a hipótese de conseguir formação para os auxiliares, dada pela Fundação Aga Khan. No que diz respeito ao agrupamento de Escolas Marquesa de Alorna, no qual os docentes não fizeram a ação creditada pelo Estado, “está prevista uma reunião com os professores no início de janeiro do próximo ano” para dar seguimento ao processo,revela.

E apoio à população mais velha, que tanta dificuldade tem nos dias que correm com as tarefas do dia-a-dia que passaram a ser feitas online? Os idosos não foram esquecidos, mas a pandemia atrasou o processo. Rita Saraiva explica que esta “é a primeira vez que a ADM Estrela aqui em Lisboa vai trabalhar com seniores. Existe uma relação de familiaridade com eles, de vizinhança, mas não a nível de trabalho de intervenção. É um grande desafio”. Assim, a estratégia passou por “falar com as entidades que já trabalham com eles aqui no território, como a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e a Gebalis e conseguir que eles adiram ao ‘Porta 11’”.

A ADM Estrela realizou um diagnóstico relativo à literacia digital no território Liberdade/Serafina, porta a porta, fazendo um levantamento das dificuldades e problemas dos idosos, em parceria com o Projeto Radar da Santa Casa da Misericórdia.

“Há muitas pessoas a viverem sozinhas, de muita idade, com imensas dificuldades”. A Inauguração do Espaço Comunitário da Liberdade, prevista para dezembro, pretende trazer os seniores a conhecer o local, usar os computadores… “Há pessoas que acham que não têm ‘necessidades digitais’, que não vêem logo como é que isto pode ser uma mais-valia. Esta necessidade tem de ser construída para verem como pode contribuir para uma melhoria da qualidade de vida. Seja para pedir uma senha, seja para resolver um assunto, aceder a serviços do Estado, cada vez mais é necessário recorrer ao digital”, refere a coordenadora da ADM Estrela. “Alguns seniores têm interesse nesta área, outros não. Mas também há muito desconhecimento. Quando lhes falamos em digital eles acham que ‘são as coisas do telemóvel, as internets’, muitos não compreendem esta necessidade”.

A ADM Estrela realizou um diagnóstico relativo à literacia digital, fazendo um levantamento das dificuldades e problemas dos idosos, em parceria com o Projeto Radar da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa

O incremento da literacia digital é de grande importância, mas “combater o isolamento e a solidão são os verdadeiros objetivos” por trás desta iniciativa. “Trazê-los ao centro comunitário, conviverem, haver interação com os mais novos, uns a usarem o computador, outros a desmontá-lo para reparação, isso seria o ideal,” mas a pandemia ainda não permitiu que sucedesse.

Repair Café

Além das reparações feitas pelos voluntários e posteriores doações a famílias carenciadas, a ADM Estrela já promoveu vários Repair Café, eventos públicos e gratuitos em que pequenos eletrodomésticos envelhecidos ou acidentados podem ganhar nova vida, pelas mãos dos proprietários. “É preciso perder o medo de abrir os objetos, para reparar e tentar ver o que está a acontecer lá dentro!”, exclama Gustavo Funke, que também marca sempre presença nos Repair Café. “Já sou mega master com máquinas de café. 95% das que aparecem são reparadas! É um circuito simples, um botãozinho que avaria… Tivemos cá uma torradeira que a única coisa que tinha era excesso de migalhas!” Mas há mais, “a quantidade de micro-ondas que salvamos é imensa, por causa de peças que custam 50 cêntimos! Também acontece com os aspiradores de pó!” explica o técnico.

O técnico Gustavo Funke, que dá formação aos voluntários do Porta 11 e também participa nos Repair Cafés

Gustavo recorda que, atualmente, a sociedade está muito virada para o consumismo, não havendo incentivo a este reparar de avarias: “por exemplo, com os micro-ondas, antes, bastava abrir uma tampinha e substituir um fusível. Agora o compartimento é dentro do aparelho, é preciso desaparafusar tudo e ainda temos um autocolante a dizer ‘Perigo! Não abra’!”

Por isso, já sabe, caso tenha objetos que precisam de reparação, pode doá-los na sede da ADM Estrela ou na Junta de Freguesia de Campolide, contribuindo para ajudar famílias necessitadas. Se tiver curiosidade e quiser saber mais, esteja atento às redes sociais da organização para ver quando será o próximo Repair Café e aventure-se no mundo das reparações!

Rita Saraiva, Coordenadora da Delegação de Lisboa da ADM Estrela, e Elodie Monteiro, Técnica Superior de Educação, à porta da sede da associação, no Bairro da Liberdade, em Campolide

AAH

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