Ontem de manhã, no Fórum Lisboa, três candidatos ao Parlamento Europeu* e três organizações europeias da sociedade civil apresentaram as suas perspetivas em relação ao futuro da Europa no âmbito da conferência “Reflectir a Europa: “De onde vimos, para onde vamos”, co-organizada pela Rede DLBC Lisboa e pela ALDA – European Association for Local Democracy no âmbito do projeto WISE.
Num primeiro painel moderado por José Brito, do Clube Intercultural Europeu, mais ou menos otimistas, os políticos convidados foram desfilando as suas opiniões sobre democracia, cidadania europeia, migrações e o futuro da Europa.
Seguem algumas frases-chave escutadas no grande auditório do Fórum Lisboa – Casa da Cidadania, na sequência de algumas perguntas lançadas pelo moderador, algumas delas provindas de uma plateia composta por representantes de organizações da sociedade civil de 16 países da Europa.
Margarida Marques (Partido Socialista)
“Precisamos de encontrar maneiras diferentes de melhorar a participação dos cidadãos na vida e nas decisões da política Europeia. Não quero dizer com isto que haja um défice democrático na UE. Precisamos é de ter melhor democracia na EU.
(…) Considerando a xenofobia e outros problemas que temos hoje na Europa, acredito é que há um défice de solidariedade, por exemplo, com os refugiados e os migrantes a chegar à União Europeia.
Por exemplo, membros do parlamento Europeu, quando têm que produzir um relatório ou tomar posições num ponto ou outro, eles ouvem parceiros sociais, ONGs, etc. Necessitamos [ainda] de mais abordagens bottom-up: isso é o que vocês estão a fazer com esta rede [WISE]. Isto é apontado como algo que devemos revigorar no âmbito da União Europeia.”
José Gusmão (Bloco de Esquerda)
“Durante três décadas, depois da 2ª Guerra Mundial, tivemos um período significativo em que não tivemos uma forte extrema-direita política na Europa [porque havia] um contrato social baseado no Estado Social. Depois tivemos uma transição liberal nos anos 80, iniciada no Reino Unido e depois espalhada por toda a Europa. (…) Na Europa há 25% de pessoas pobres ou em risco de pobreza e é óbvio que os fenómenos extremistas têm crescido nestes setores de população com a exploração bastante bem sucedida de sentimentos de ressentimento nestes setores.
(…) Penso que jamais conseguiremos encontrar uma resposta adequada aos movimentos de extrema-direita, qualquer que seja a sua configuração particular, se não confrontarmos os problemas sociais que são a base do discurso das propostas da extrema-direita, em vez de integrarmos algumas das suas exigências no discurso mainstream.
Uma das minhas maiores preocupações é a infiltração das propostas, do discurso e das expressões das organizações da extrema-direita inclusive a um nível institucional na Europa. Um dos exemplos [aconteceu com] a crise dos refugiados”.
Francisco Guimarães (CDS-PP)
“Não vou ser politicamente correto. Quando falamos em migrações, temos que falar em populismo de direita e esquerda. O crescimento do populismo de extrema-direita chega porque a Europa decidiu que estava tudo bem em ter toda a gente a bordo. E não, não está tudo bem, porque as pessoas não acham isso. Temos visto o movimento Lega Nord a crescer em Itália e a Front Nationale a crescer em França.
Acredito que temos que ajudar os refugiados, mas temos que fazer uma clara diferença entre refugiados e migrantes económicos. Sim, [será bom] se pudermos ter também migrantes económicos a requerer vistos e trabalho e a entrar na EU, mas temos que priorizar a ajuda aos refugiados. Temos que ser claros neste assunto. Se não o fizermos, será alguém à nossa direita que irá dizer ‘não, eles são terroristas, vêm para aqui só para nos prejudicar’. Nós não queremos isto, mas também não queremos [algo como] “deixem todos vir, vamos fazer algumas mudanças na nossa sociedade”. Temos que ser moderados.
Os partidos tradicionais, moderados, não têm que acabar, mas têm que dizer de forma mais clara [por exemplo aos capacetes amarelos] ‘nós temos soluções para os vossos problemas e desafios’.
(…) Para a democracia funcionar, temos que ser claros, dizendo que os partidos são importantes. Sim, alguns movimentos sociais e ONGs são também importantes, mas nada pode mudar sem os partidos. Isto é algo que temos que assegurar.”
João Faria (responsável pelo pelouro do sector político da Representação da Comissão Europeia em Portugal)
“Eu trabalho em atividades de informação [da] União Europeia. Se compararmos como cada nação foi construída, normalmente não foi só através de informação, mas também de longos períodos de eventos concretos que criaram um sentido de nação. Deixem-me dar um exemplo: durante o último verão, durante o período de incêndios, o meu colega da Suécia disse que tinha sido impressionante como os suecos receberam as notícias [de Portugal]. Isto tipo de pequenos eventos podem criar o sentimento que estamos aqui no mesmo barco. É apenas este tipo de passos concretos que vão criar, aos poucos, esta ideia de cidadania europeia. Claro que mecanismos como o Erasmus também podem ajudar, mas temos que estar conscientes que há limites para o que podemos fazer a nível de informar as pessoas.
(…) Penso que é correto reconhecer que o problema com os migrantes na Europa não é sobre a escala do problema, mas sobre a incapacidade dos membros-estado de concordarem em formas iguais de partilhar o esforço. É possível resolver o problema se todos os Estados-membros participarem neste esforço [coletivo]”.
A reportagem sobre o segundo painel desta Conferência será divulgada em breve. Fique atento/a!
* Livre, PSD e o PCP infelizmente não puderam ser representados neste debate por falta de agenda.
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